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Contos-->Cheiro de Sangue e Morango -- 06/04/2000 - 15:21 (Claudia Modell) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Título: Cheiro de Sangue e Morango
Autora: Claudia Modell
Sinopse: Mulder comete um erro que pode lhe custar sua carreira, seu
relacionamento com Scully e sua própria sanidade
Categoria: Drama
E-mail: cmodell@hotmail.com
Homepage: http://x-files.neosite.com.br/pusher/black.html
Disclaimer: Os personagens dessa história foram criados por Chris
Carter,
1013 e Fox Company.


Cheiro de Sangue e Morango

Uma sensação de deja-vu se apodera de mim, agora, quando estou
sentado ao lado da minha parceira, enfrentando as feras do FBI. Me
sinto
como um cristão lançado aos leões em uma linda tarde de domingo. Eu
sei, é
estranho. Dois sentimentos tão antagônicos estarem presentes. Mas é o
cheiro de morango que faz isso comigo. Deve ser o perfume dela ou seu
shampoo. Não importa, eu sem que vem dela.

O estranho é que o cheiro de morango me traz as lembranças dos
acontecimentos que me trouxeram a este momento.

Eu lembro do cheiro de sangue e pólvora. Eu sei que deveria dizer
que
senti o cheiro de pólvora primeiro, mas o sangue tem um odor, por
vezes,
mais metálico que o da pólvora.

E, sentir os dois odores, quase ao mesmo tempo, fez, e ainda faz,
meu
coração bater mais rápido.

É o cheiro de perigo.

Somente sua lembrança me faz sentir em perigo. Bem, eu estou em
perigo.

Mas o odor de morango me acalma.

Os homens sentados em torno da grande mesa discutem, me olham, falam
comigo com raiva. Eu não escuto.

Nos meus ouvidos ainda ecoam cinco tiros. Cada tiro havia
estremecido
todo meu corpo, como se eu os tivesse recebido. Mas eles saíram da
minha
arma. A arma que apontava para a cabeça de um seqüestrador.

Com o mínimo de esforço eu consigo lembrar de toda a cena, em câmera
lenta, e até mesmo com efeitos especiais, como luzes piscando, musica
tocando, talvez um jazz.

Se era jazz que tocava, ou se tocava, não lembro.

A parte esse esquecimento, o resto das lembranças é vívido. O homem
à
minha frente, com a criança no colo.

Eu, com a arma em punho, apenas esperando o momento certo. Não sei o
que me levou a escolher aquele momento como o certo, mas eu escolhi,
não
posso voltar atrás apenas clicando no back.

O homem havia levantado a menina, como um escudo. Eu atirei.

Pam! Pam! Pam! Pam! Pam!

Cinco tiros. O coice da arma jogou meu braço para cima cinco vezes,
e
eu, cada vez, abaixava o braço e atirava novamente.

Contando assim parece que eu tive tempo de pensar entre um tiro e
outro. Tempo de atirar, tomar um café, voltar, atirar de novo,
trocar o
maldito cd de jazz por algo mais interessante, voltar, atirar de
novo,
ligar para o Skinner e dizer que não ia trabalhar segunda, voltar,
atirar
de novo...

Não, não é mesmo assim que funciona. Não foi assim que aconteceu.

Depois do primeiro tiro eu já era incapaz de pensar. O primeiro tiro
ainda estava sendo assimilado pela minha mente enquanto as outras
balas
saiam do cano da arma. Eu ainda pensava o que diabos eu tinha feito,
quando
o quinto e último tiro ecoou pelo quarto.

De qualquer forma, o quinto tiro não tinha importância no esquema
geral das coisas.

O primeiro tiro, esse sim fundamental para toda a trama, destruiu a
pequena cabeça da menina de olhos azuis. O segundo tiro destruiu sua
face.
Os outros destruíram qualquer vestígio de humanidade dela e minha.

Ao final dos cinco tiros a menina já não existia. Eu ainda estava
lá,
mas as balas estavam dentro de mim. Uma alojada no meu cérebro,
outra no
meu rosto, as outras no meu coração, para sempre. Eu sobreviveria,
claro.
Mas as balas estariam lá.

O homem, que era meu alvo primário, acabou morrendo, já que o escudo
que escolhera era tão frágil quanto uma folha de papel.

Cinco longos tiros e não havia mais situação de perigo.

Toda a equipe da SWAT podia ir embora para casa, assistir ao jogo de
baseball e contar pros vizinhos como um agente do FBI havia feito a
maior
merda de todos os tempos.

Eu somente queria ser um vizinho. Ou o cachorro do vizinho. O que eu
não queria era sentir, nunca mais, aquele cheiro de sangue e pólvora
que
dominara o ambiente após a execução.

Eu mal conseguia respirar. O estranho mesmo é que eu não me
importei.
Ah, claro que eu sabia de conseqüências, que as pessoas me odiariam.
Eu até
me importava com isso. Mas não me importava com mais nada. Sequer
liguei a
figura da menina com minha irmã desaparecida.

Ok, digam que eu sou um homem louco, mas eu não vou sair por aí
dizendo que senti coisas que não senti.

Eu realmente não me importei. Estava mais incomodado com o cheiro
que
me nauseava. Com a visão de miolos e intestinos espalhados pelo
chão, teto
e paredes.

Me incomodava, também, a pouca luz. Me virei para procurar o
interruptor.

Foi quando eu vi Scully. Seus olhos azuis me fitavam com uma mistura
de choque e raiva.

Mistura de sangue e pólvora.

Eu fui em sua direção, mas ela se afastou.

Foi nesse momento que eu passei a me importar mas somente por causa
da reação dela. Acho que esse arrependimento tardio e pelos motivos
errados
foi percebido por ela.

À medida que ela se afastava de mim eu deixava de sentir qualquer
cheiro, a não ser o de morango.

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De repente, todos se levantam. Provavelmente me disseram alguma
coisa, mas eu não ouvi nada.

Me sinto como se estivesse em algum outro lugar. Como se nada
daquilo
estivesse acontecendo comigo.

Às vezes me digo que é comigo, que fui eu que estraguei tudo. Mas
quando digo isso meu sangue gela nas veias, meu coração dispara.

Não acho que seja bom para a minha saúde voltar à realidade.

Quando dou por mim vejo que Scully está seguindo em direção à porta.
É para onde eu devo ir, claro.

Alguém, no entanto, interrompe meus passos. Acho que é Skinner. Não
me interessa saber quem é, ou o que quer.

Ele diz algo sobre minha arma. Eu realmente não entendo nada. Só
quero sair daquela sala.

Talvez alguma parte de mim, bem mais lúcida, estivesse prestando
atenção, já que, quando percebo, minha arma e distintivo estão em
cima da
mesa. Onde estava essa parte lúcida de mim quando tudo isso começou?
E até
quando iria me acompanhar?

Melhor não me distrair ainda mais. Todos me fitam. Os olhares irados
são para mim. Somente para mim!

Mas o que me apavora é o olhar dela. É o mesmo olhar que ela sempre
lança aos assassinos que caçamos. Eu sei que ela está contra mim.

Ela me avisou uma vez que ficaria sempre do lado da vítima. E eu não
sou a vítima, de jeito nenhum.

Antes de chegar à porta eu já não a vejo. Saio da sala e tento
alcançá-la antes que ela entre no elevador.

Sinto o cheiro de morango, novamente. Mas dessa vez há algo errado.
A
calma que o odor me trazia desapareceu.

Minha boca se enche, subitamente, de água. Água quente, muita água.

Eu tento engolir e me sinto como se não pudesse respirar. Como se
fosse afogar no meu pré-vômito.

Aquela parte lúcida de mim fala com voz calma para respirar fundo,
me
sentar e abaixar a cabeça. Mas não funciona. A voz deixa de ser tão
calma e
se torna mais urgente, me obrigando a correr para um banheiro.

Eu chego em tempo, apenas para expulsar toda a água que antes
invadira minha boca. Não há nada para vomitar, de qualquer forma.
Mas ao
mesmo tempo, há tanta coisa.

Há o sangue, a carne humana, a pólvora.

Morangos....

A lembrança do cheiro de morango faz meu estômago entrar em
convulsões vazias.

Ao final de uma eternidade eu me levanto. O suor escorre pelo meu
rosto, costas, pernas.

Sinto meu corpo grudando nas roupas. Um calafrio percorre minhas
costas, me fazendo estremecer diversas vezes.

Scully!!!!!

Eu preciso dela. Ela precisa vir me buscar.

Mas eu percebo, agora, que ela não vai me achar. Eu não estou mais
aqui. Eu não sei onde estou, mas prefiro ficar nesse lugar. Lugar
nenhum.

Melhor deixar de lado esse corpo suado, cansado, com odor de vômito.
Melhor abandonar alguém que não tem mais esperança, alguém que matou
um
inocente.

Eu fecho meus olhos e espero que alguém leve esse corpo para algum
lugar escuro, frio, inodoro.

Eu não quero mais a luz, o calor ou qualquer odor. Principalmente
isso, não quero mais sentir nenhum cheiro.

Nem de sangue, nem de morango.

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Dana Scully ainda estava tremendo. Mesmo tantas horas após o
"incidente" ela ainda tremia. As lembranças dos acontecimentos se
esmaeciam, mas o momento em que ela entrara no quarto do velho
edifício,
após Mulder ter descarregado sua arma no corpo daquela criança, ainda
estava vívido em sua memória.

Ao ouvir os tiros ela correra em direção ao quarto. A visão do
sangue
não era nada comparada com o olhar de seu parceiro.

Ela vira aquele mesmo olhar tantas vezes, mas não nele. Não em
Mulder.

Era a mesma expressão que todos os assassinos tinham. Era como
diziam
que não se importavam com nada.

Mulder parecia estar disposto a sair daquele quarto e passar no
primeiro McDonalds, pedir um Big Mac, com bastante ketchup, por favor.

Deus! Ela estava sendo injusta. Era de Mulder que ela estava
falando,
ou pensando.

Claro que vê-lo sendo repreendido, ameaçado, acusado, sem que seu
rosto demonstrasse qualquer emoção, ajudava Scully a pensar daquela
forma.

Ele estava em choque, ela dizia a si mesma.

Quando a reunião terminou, Scully olhou para ele. Mulder parecia tão
desinteressado que sequer obedeceu a Skinner quando este pediu sua
arma e o
distintivo.

E, quando finalmente o fez, a raiva estampou-se em seu rosto.

Por instantes, Scully temeu que ele aproveitasse a temporada de tiro
ao alvo e redecorasse as paredes do escritório.

Mas ele não o fez. Sem dizer qualquer palavra, ele foi em direção a
ela.

Scully jamais fugiria de seu parceiro. Era uma constante universal.
Mesmo quando ele apontara uma arma para a cabeça dela, e ele fizera
isso
diversas vezes, ela não havia sequer pensado em fugir dele.

Mas, naquele momento, mesmo sabendo que ele estava desarmado, ela
escapara.

Ouvia os passos dele, cada vez se aproximando mais, ecoando pelo
corredor vazio. Seu coração batia no mesmo ritmo, a mesma cadência.
Ela
achou que se ele parasse seu coração não saberia mais que ritmo
seguir.

E ele parou.

Ela se virou e viu que ele corria para o banheiro.

Sua mente lhe implorava para ir para casa. Seus instintos lhe diziam
para manter-se afastada. Seu coração ordenou que fosse atrás dele.

Ao entrar no banheiro, Scully pôde ouvir seu parceiro, seu amigo,
que
vomitava, que gemia. Que chorava?

Talvez.

Ela não tinha forças para suportar isso. Sabia que tinha que ajudá-
lo, mas não tinha nem idéia se queria isso, quanto mais se era capaz.

Não conseguia sequer dar um passo em direção a ele.

Ela via, da porta, o reflexo dele no espelho. Ele estava no chão,
ajoelhado, ao lado do vaso sanitário.

Scully sofria ao vê-lo assim, mas seus pés não obedeciam. Seu corpo
inteiro se rebelava. Queria chorar, queria dizer o nome dele, queria
ir em
direção a ele e, acima de tudo, queria fugir para bem longe.

Mas ela mal conseguia respirar.

Ele parou de fazer barulho. A respiração se tornava mais regular.

Scully viu que ele estava se levantando. Ela tomou forças e saiu do
banheiro.

Mas, antes disso, por alguns segundos, no reflexo do espelho, seus
olhos se encontraram com os dele.

Por segundos, que pareciam horas, ele expressou toda a gama de
sentimentos que se escondia dentro dele.

O medo, a raiva, a tristeza, o amor.

Ela viu tudo isso com clareza, quase como se ele gritasse em altos
brados o que sentia.

Mas ela mesma já não sabia mais o que sentia.

Fechou os olhos e deixou o banheiro.

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Três meses já haviam se passado, desde a decisão final do FBI, e
Mulder ainda não havia conseguido um outro emprego. Ele se sentia
com sorte
de, pelo menos não estar na prisão. Insanidade temporária ainda era
uma
ótima desculpa para não colocar o Governo em situação constrangedora.

Mas o fato de estar livre não minimizava seus problemas. Tinha
demorado demais para perceber que sua vida havia mudado
irremediavelmente.

Depois do incidente no banheiro, Mulder havia se recomposto o
suficiente para ir para casa e dormir durante dias seguidos. Ele
estava
cansado. A caçada àquele criminoso durara meses. E ainda terminara
daquela
forma.

Ele não achou que seria capaz de dormir, livre de pesadelos. Mas se
surpreendeu. Em seu sono livrou-se, de fato, de todas as angústias
que o
dominavam, como desejava Hamlet.

Mas ao contrário de Hamlet, ele não tinha dúvidas sobre o que fazer.
Não lutaria contra todas suas dificuldades. Apenas suportaria seu
destino
adverso. Era, no seu caso, o mais digno a ser feito.

A vida lá fora, no entanto, clamava por sua presença. O telefone
tocara diversas vezes, incessantemente, até que Mulder, cansado de
ignorar
o ruído, decidiu atender.

Era Skinner que se vira obrigado a dar a notícia de seu afastamento,
forçado, do FBI.

Depois de todas as formalidades, que na verdade eram bem simples,
Mulder, mentalmente, dera adeus ao prédio do FBI, às suas poucas
amizades,
à sua rotina.

Dizer adeus havia sido fácil.

Difícil foi habituar-se a não se arrumar para o trabalho todas as
manhãs, a não ter um caso para investigar. Não pegar o telefone e
ligar
para ela.

O telefone não deu outros sinais de vida. E ninguém apareceu à sua
porta.

Mulder não esperava que alguém, ela, aparecesse. Ele sequer queria
isso. Não saberia o que dizer. Mas, no fundo, se ressentiu desse
afastamento.

Às vezes, pegava o telefone, chegava a discar poucos números e
desligava antes de completar a ligação.

Uma vez chegara a ouvir a voz dela. Ela disse alô duas vezes, depois
ficou em silêncio. Uma eternidade se passou antes que ela desligasse
o
telefone. Naquele espaço de tempo ele ouviu a respiração dela.
Quente,
suave. Mas não tranqüila. Mulder teve certeza que ela sabia que era
ele do
outro lado da linha. Mas ela nada disse. E muito menos ele.

A conversação silenciosa terminou e o deixou estranhamente calmo e
decidido.

O silêncio colocara fim em suas angústias, suas esperanças.

Ele sairia dali, deixaria a cidade e jamais retornaria.

Não tinha mais como se manter naquele apartamento. Seu dinheiro
estava acabando. O melhor era mudar totalmente de vida, virar a
página e
tentar esquecer.

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Scully ainda tentava entender o que realmente acontecera, tentava
explicar a si mesma como Mulder havia conseguido destruir tudo em
poucos
segundos.

Mas não haviam sido poucos segundos e nem mesmo havia sido somente
Mulder a destruir tudo.

Quem examinasse a situação de um ponto de vista distante, com
certeza, diria que ela era uma pessoa insensível, que o FBI havia
agido
corretamente ao demitir Mulder e que a Justiça havia falhado ao não
colocá-
lo atrás das grades.

Mas a história era bem mais complexa. Dois meses antes do tiroteio
as
vidas de todas as pessoas envolvidas naquela tragédia eram bem mais
tranqüilas, corretas, estáveis.

Scully reprisava todos os acontecimentos, quase como se dirigisse em
uma estrada, tentando encontrar o local exato onde havia ocorrido o
erro
que desgovernara o carro, fatalmente.

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Quando Mulder pegou o caso trazia consigo a arrogância que lhe era
peculiar nesses momentos. A certeza de que, mais cedo do que tarde,
ele
conseguiria encontrar o assassino. Dois meses depois ele estava tão
longe
de pegar o criminoso quanto estivera no primeiro dia. Ao final
daquele
período ele já havia matado sete crianças e mais uma havia sido
seqüestrada.

A pressão sobre os agentes era terrível. Mas sobre Mulder parecia
pior. Não era necessário que alguém dissesse algo. Bastava ver os
olhos de
todos. Scully sabia, agora, que ela também o pressionara.

Ela também exigia, silenciosamente, que ele resolvesse o caso.

Tantos meses depois, ela agora percebia o que deveria ter notado
tempos antes.

Quando a oitava criança foi encontrada, tão morta quanto suas
predecessoras, todos se viram mergulhar em um estado de decepção e
desesperança. Ninguém tinha mais certeza de que encontrariam o
assassino,
antes que ele escolhesse sua próxima vítima.

E tudo se repetira. Uma semana depois, mais uma vítima. Outra semana
e mais uma criança desaparecida e em seguida morta.

Scully já não suportava mais fazer autópsias naqueles pequenos
corpos.

Cada autópsia que realizava, cada corte nos corpos gelados, traziam
a
ela a visão de seu parceiro. Mulder se esforçava, ela sabia disso.

Bastava ver-lhe as olheiras, o cansaço, a magreza.

Mas, ao mesmo tempo, ela se juntava aos outros agentes, exigindo,
muitas vezes não silenciosamente, uma solução para o caso.

Ela tinha visto Mulder encontrar criminosos dos quais ninguém sequer
desconfiara.

Scully exigira isso dele, como uma criança que exige que um truque
de
mágica seja feito vezes sem fim.

Mulder sentia a pressão. Sentia a decepção e tristeza nos olhos de
sua parceira. Ele agüentava a pressão vinda de todas as pessoas,
menos
dela.

A única coisa que ele queria era acabar com aquele monstro, mas ele
não conseguia saber quem era o inimigo. O perfil que traçara era tão
abrangente, tão genérico que se tornara inútil.

Assim, quando um telefonema apontou os agentes para um prédio
abandonado, onde um homem havia sido visto arrastando uma criança,
Mulder
agradeceu ao destino e fez questão de ser o primeiro a estar frente a
frente com o seqüestrador.

Scully havia tentado dissuadi-lo, mas ele insistiu. Ela vira,
naquele
momento, uma faísca em seu olhar, um ódio incontrolável.

Ela tivera medo. Não dele, mas do que ele poderia fazer. Ela se
afastara, assim como todo o resto da equipe. Se Spooky Mulder queria
estourar os miolos daquele animal, ninguém o impediria.

Tudo o que se seguiu poderia ter sido evitado. Scully sabia disso e
se sentia culpada.

Mas ninguém fez nada. Nem mesmo após o tiroteio ninguém ousara dizer
uma única palavra. Nem mesmo ela.

A lembrança de Mulder sozinho, naquele banheiro, ainda a fazia
chorar. Como ela quisera ter feito algo. Agora se odiava por sua
omissão.
Era tarde, ela sabia.

Ela havia virado as costas para ele, vezes demais, para voltar
atrás.
Para tudo voltar a ser como era antes.

Scully havia fugido dele quando correra em direção ao elevador.
Deixou-o sozinho, naquele banheiro e enfim ignorara seu telefonema,
como um
golpe de misericórdia.

Todos esses pensamentos povoavam a mente dela, enquanto olhava para
o
apartamento vazio de Mulder.

Enquanto Mulder corria dela, uma lágrima corria por sua face.

Ela o havia perdido, para sempre.

Fim
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